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Renato Azevedo: um arquiteto moderno campinense.


Texto:
Alcilia Afonso/ Kaki

Esta postagem trata de algumas informações básicas sobre o arquiteto paraibano, Renato Aprígio Azevedo da silva, que nasceu em Campina Grande, em 1943 e faleceu em Recife, em 4 de abril de 1997. 

Em 2017, o GRUPAL_UFCG deu início a um projeto de pesquisa desenvolvido pela aluna Ingrid Oliveira, que trouxe à tona, dados importantes sobre este personagem, que ainda precisa ser devidamente estudado, pela importância de seu trabalho na cidade de Campina Grande.

Azevedo cursou arquitetura e urbanismo na Universidade Federal de Pernambuco, graduando-se em 1968, tendo sido  aluno dos mestres Delfim Amorim, Acácio Gil Borsoi e Heitor Maia Neto, além de ter recebido da Escola do Recife, os princípios norteadores de sua formação enquanto arquiteto e urbanista.

A Escola do Recife serviu de base para vários arquitetos da região nordeste que migravam para a cidade, para receberem formação e dessa forma, os critérios modernos como racionalidade, uso de modulação, volumetria pura, transparências espaciais, atenção ao detalhe construtivo, e à solução estrutural- eram adotados e estavam presentes na produção dos chamados "discípulos" dessa Escola, como por exemplo, Renato Azevedo.

Em sua cidade natal-  Campina Grande, Azevedo teve oportunidade de atuar bastante no mercado profissional e produziu vários projetos arquitetônicos, tais como a sede atual da Secretaria de Educação (antigo Museu Assis Chateaubriand), Centro Cultural Lourdes Ramalho,  Shopping Campina Grande (Largo do açude novo), bem como, projetos urbanísticos como o canal do Prado, os parques Evaldo Cruz, Parque da Criança, bem como, projetos para as avenidas Canal e Manoel Tavares.

  Desenho de Renato Azevedo para o projeto do Museu Assis Chateuabriand que atualmente abriga a SECULT. Fonte: Acervo da PMCG.

Observa-se na sua produção, a busca constante em dialogar arquitetura e cidade, pois tanto seus projetos urbanos quanto arquitetônicos, foram e continuam sendo de suma importância para a construção da imagem do que a cidade de Campina Grande é hoje.

A partir dos anos 60, observou-se na cidade de Campina Grande, a interferência política e econômica, o que corroborou investimentos e outra qualidade projetual nas construções civis, devido ao milagre econômico que ocorria na época.

Obras analisadas na pesquisa

Na pesquisa desenvolvida por OLIVEIRA(2017), foram analisadas as seguintes obras:

1_ Museu De Arte Assis Chateaubriand. Ano: 1974. Local:Parque Evaldo Cruz, Centro.

A proposta original desenvolvida no início dos anos 70 do século XX era para abrigar o espaço de um Museu de Arte Contemporânea para a cidade - Museu de Arte Assis Chateaubriand/ MAAC - (AFONSO, 2018), contudo o uso não vingou, e o espaço foi reutilizado para abrigar a sede da Secretaria Municipal de Cultura/SECULT. Este projeto original já nasceu com equívocos funcionais, pois as esquadrias propostas em madeira e vidro permitiam uma entrada excessiva de luminosidade que prejudicava a conservação das peças ali expostas.


Museu Assis Chateuabriand que atualmente abriga a SECULT. Fonte: Fotografia de Alcilia Afonso. 2018.


A linguagem estilística adotada pelo arquiteto foi o brutalismo, onde a verdade construtiva ficou à mostra, e a materialidade da obra está caracterizada pelo uso do concreto aparente nos elementos estruturais de lajes, vigas e pilares; da pedra encontrada na região, que foi utilizada em formato irregular na base da edificação, criando planos ricos que dialogam com o concreto; da madeira presente no desenho das esquadrias, que possuem suas estruturas e madeira e folhas em vidro; do tijolo aparente, que fecham alguns trechos da pele da edificação.

2_Centro Cultural Lourdes Ramalho. Ano:1982. Local: R: Paulino Raposo, São José.

Foi  inaugurado no dia 08 de Outubro de 1982, durante a gestão do então prefeito Enivaldo Ribeiro. Está localizado  na rua Paulino Raposo, S/N, São José, Campina Grande. Em seu entorno imediato destacam-se instituições e espaços de lazer, como: o Parque do Povo, o Parque Evaldo Cruz (Açude Novo) e o Teatro Municipal Severino Cabral. 

Estudos sobre as suas patologias foram realizados por disciplina de projeto arquitetônico 5, no ano de 2018, na UFCG.

 
Centro cultural Lourdes Ramalho. Fonte: Fotografias de Alcilia Afonso.2018.


3_ Shopping Campina GrandeAno: 1974. Local: Av. Marechal Floriano Peixoto, Centro.


Dessa forma,através das pesquisas realizadas, observou-se que:


1_ Em relação à proteção legal e ao estado de preservação destes edifícios: Estes não estão protegidos legalmente por nenhum órgão preservacionista responsável.
2_ Quanto ao estado de conservação: observa-se que estão em um estado razoável de conservação pois apresentam alguns problemas estruturais e construtivos, devido à falta de manutenção.

Contudo estes problemas são reversíveis e a edificação não se encontra em processo de arruinamento. 


Para saber mais:

AFONSO, Alcilia et al. Observações sobre as patologias do patrimônio arquitetônico moderno: análise e Reflexão da Preservação em Obra Moderna de Campina Grande, Paraíba. ICOMOS Brasil. 2º Simpósio científico. 2018.

AFONSO, A e MENEZES,C. A Influência da escola do Recife na arquitetura de Campina Grande 1950-1970. Belo Horizonte: 4º Seminário Ibero americano Arquitetura e Documentação.2015.

AFONSO, Alcilia. CONSERVAR JÁ! DOCUMENTAR SEMPRE. Patologias da tectônica da modernidade arquitetônica. Estudo de caso em Campina Grande. PB. Salvador. 13º Seminário DOCOMOMO Brasil.2019.


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