Texto: Alcília Afonso.
AFONSO (2014) vem realizando pesquisas sobre o arquiteto Raul Cirne e sua atuação no nordeste brasileiro, havendo escrito artigos publicados em periódicos e em congressos sobre modernidade arquitetônica e através de tais pesquisas, levantou-se que Raul de Lagos Cirne era filho de Otto Pires Cirne e Maria de Lourdes de Lagos Cirne, e nasceu no dia 04 de agosto de 1928, em Belo Horizonte.
O arquiteto em entrevista à Alcilia Afonso.BH.2013. Foto: Alcilia Afonso/2013.
Graduou-se Engenheiro Arquiteto pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1951, quando iniciou, em seguida, suas atividades como arquiteto.
Em sua antiga prancheta de trabalho. BH.2013. Foto: Alcilia Afonso/2013.
Na sua formação como arquiteto, Cirne conviveu com a implantação da linguagem moderna na cidade, tendo a presença de Juscelino Kubitschek para prefeito, em 16 de abril de 1940, que foi decisiva para a instalação definitiva da modernidade na capital mineira.
A arquitetura de Belo Horizonte inseriu-se no ambiente moderno dos anos 50 e 60 pelas resoluções de programas voltados apenas para as necessidades das classes abastadas e construções de equipamentos que garantissem o funcionamento e afirmação da nova política municipal, estadual e federal. Notabilizaram-se, nesta época, a verticalização e a estética da arquitetura, principalmente no centro da cidade, e os edifícios institucionais como representantes autênticos de um novo tempo da modernidade belo-horizontina, conforme colocou AFONSO ( 2014).
Após sua formação como arquiteto, Cirne iniciou uma brilhante carreira profissional, prestando consultoria como arquiteto para diversas instituições, tais como, a CEMIG- Centrais Elétricas de Minas Gerais, para a elaboração de projeto do edifício da sede situado na Av. Barbacena, bairro Santo Agostinho, Belo Horizonte; para a SEEBLA- Serviços de Engenharia Emilio Baumgart Ltda; para a Engevix- Estudos e Projetos de Engenharia, filial de Belo Horizonte; e para a SUDECAP para estudos de soluções dos sistemas viários da Praça Sete e Praça Raul Soares.
Durante os anos setenta trabalhou como arquiteto da empresa mineira SEEBLA/ Serviços de Engenharia Emilio Baumgart LTDA, que desenvolvia projetos para várias cidades brasileiras, inclusive, para o estado da Paraíba e Piauí, tais como o Estádio Albertão (Teresina), e o Monumento do Jenipapo, localizado em Campo Maior, o estádio Ernani Sátyro (Amigão) em Campina Grande e o Estádio Almeidão, em João Pessoa.
Uma informação curiosa foi descobrir o elo existente entre Raul Cirne e a SEEBLA. Investigando-se sobre os vínculos pessoais e profissionais, chegou-se aos nomes do engenheiro Gil César Moreira de Abreu. A esposa de Raul Cirne, Marília, era irmã do engenheiro Gil César, graduado em Engenharia Civil pela Universidade de Minas Gerais (UMG), que foi o construtor do estádio de futebol Mineirão, conhecido como Gigante da Pampulha.
Obras no Nordeste:
1_ Na Paraíba.
Estádio Ernani Sátyro, conhecido como “Amigão”, inaugurado em 08 de março de 1975, aproximadamente dois anos após a inauguração da primeira etapa do estádio Albertão.
A edificação está localizado no bairro Itararé, na cidade de Campina Grande – PB, em uma área de 25 hectares que foi desapropriada para a construção do estádio. A escolha do local para implantar a obra considerou a facilidade de acesso do local, que fica muito próximo às rodovias federais, e ao Aeroporto de Campina Grande.
O Amigão foi construído entre 1974 – 1975 e inaugurado em 08 de março de 1975; O estádio ficou assim conhecido, devido ao prefeito Ernani que tratava seus companheiros como "velho amigo".
Estádio O Amigão. CG/PB. Foto: Alcilia Afonso.2017.
2_ No Piauí
1_ O Estádio de futebol Governador Alberto Tavares Silva , conhecida como Estádio Albertão inaugurado em 26 de agosto de 1973, na cidade de Teresina-PI, localizado na zona sul, no bairro Três Andares, estando implantado em um terreno de nível elevado em relação ao seu entorno.
Estádio de futebol Governador Alberto Tavares Silva. Foto: Alcilia Afonso.2013
2_ Monumento do Jenipapo.
A obra está localizada na BR - 343, a 90 km de Teresina e 60 km de Campo Maior, região norte do Piauí. O monumento foi solicitado pelo Exército Brasileiro em parceria com o Governo de Alberto Silva, e foi implantado no local onde houve a Batalha de Jenipapo, ocorrida em 13 de março de 1823. No mesmo local encontra-se o cemitério dos heróis que lutaram pela independência do Brasil naquela região.
Nota-se na volumetria, o predomínio da horizontalidade, na qual o grande plano de cobertura marca o edifício, que é arrematado por pilares trapezoidais em concreto aparente, que parecem flutuar, pois possuem suas terminações inseridas em espelho de água. Um volume posterior prismático também em concreto aparente, quebra a simetria das escadarias de acesso à praça/ mirante.
PARA SABER MAIS:
AFONSO, Alcilia e NEGREIROS, Ana. Documentos da arquitetura moderna no Piauí. Teresina: EDUPI, 2010.
AFONSO, Alcilia. Raul de Lagos Cirne. A presença mineira na arquitetura piauiense. 1971-1975. Fortaleza: Anais do 5º Seminário Docomomo Norte nordeste. UFCE. 2014.
AFONSO, Alcilia e VERISSIMO, Victor. Arquitetura moderna em Teresina.Guia. Teresina: EDUPI, 2015.
AFONSO, Alcilia. Arquitetura brutalista no Piauí nos anos 1970. Arquitextos, São Paulo, ano 15, n. 174.02, Vitruvius, dez. 2014 <http://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/15.174/5367>.Acesso em: 04.mar.2016.
AFONSO, Alcilia. SOBREIRA, Cinthya. A presença da arquitetura mineira na construção da paisagem moderna na Paraíba. Estádio Ernani Sátyro. Campina Grande. 1974-1975. Anais do 4º Colóquio Ibero Americano. Paisagem cultural, paisagem e patrimônio. Belo Horizonte. 2016.
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