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Observações gerais sobre patologia das construções e bibliografia básica



Texto: Alcilia Afonso

Intervir no patrimônio edificado, significa também, conhecer o básico sobre a área das patologias das construções, que sempre foi muito bem trabalhada por engenheiros civis especialistas na área, e que na atualidade, abre as portas do mercado também, para os arquitetos e arquitetas.

Como temos visto nas postagens, estamos procurando divulgar algumas noções fundamentais para nós podermos contribuir com a conservação de nosso patrimônio edificado e para isso, torna-se necessário, irmos aprofundando mais o conhecimento.

Já sabemos, que a patologia das construções é o campo da engenharia civil e da arquitetura que se ocupa do estudo das origens, formas de manifestação, consequências e  mecanismos de ocorrências das falhas e dos sistemas de degradação das edificações (SOUZA e RIPPER, 1998).

As patologias ocorrem quando surgem situações nas quais, a edificação ou suas partes, deixam de apresentar o desempenho esperado, em determinado momento da sua vida, ou seja, a edificação não cumpre suas funções, deixando de atender às necessidades dos usuários.

Uma manifestação patológica acontece com a queda de desempenho precocemente (antes de se atingir o limiar de vida útil para aquele material ou componente), diante de erros no planejamento, especificação, execução e/ou mesmo em uso, que podem ou não ser cumulativos.

E nesse processo, aparece um novo conceito, que trata-se dos fenômenos causadores destas patologias.

Como exemplo imagético desta postagem, vamos trabalhar com o Teatro Municipal Severino Cabral, localizado na cidade de Campina Grande, Paraíba, obra projetada pelo engenheiro civil Geraldino Duda, que vem ao longo dois anos, sofrendo sérios problemas patológicos.

Atualmente, o pesquisador do Grupal_ufcg, Diego Diniz, desenvolve seu trabalho de conclusão de curso de Arquitetura na UFCG,  sobre tal obra, realizando um projeto de intervenção neste patrimônio edificado moderno.



Teatro Severino Cabral e seus problemas patológicos: infiltrações, sujidade, crosta negra, deslocamentos de pedras  em suas fachadas. Foto: Alcilia Afonso.2016

QUAIS SÃO AS ORIGENS DOS FENÔMENOS?

Os fenômenos possuem distintas origens, e abaixo listo alguns que quase sempre estão presentes nas edificações, trazendo problemas para a sua conservação.

Conhecê-los é fundamental, para evitar que o problema evolua e a intervenção necessite ser mais rigorosa. Estes fenômenos são causados por fatores, a saber:


1. Fatores atmosféricos
- radiação (solar, nuclear, térmica)
- Temperatura (elevação, depressão, ciclos)

2. Fatores biológicos
  - micro-organismos
  - fungos
  - bactérias

3. Fatores de carga (stress)
    - esforço de sustentação contínuo;
    - esforço periódico;
    - esforço randômico (fenômenos ou processos aleatórios);
    - ação física da água como chuva, granizo e neve;
    - ação física do vento;
    - combinação da ação física do vento e da água;
    - movimento de outros agentes, como veículos.

4. Fatores de incompatibilidade
    - químicos;
    - físicos.

5. Fatores de uso
    - projeto do sistema;
    - procedimentos de instalação e manutenção;
    - desgaste  por uso normal;
    - abuso no uso (inobservância da manutenção).

CONCEITOS BÁSICOS

Nossas edificações também "adoecem", e para tal, necessitamos conhecer os termos básicos para conceituar e diagnosticar as patologias.

Tais termos devem ser adotados por nós, profissionais e utilizarmos no nosso dia a dia ao tratar de problemas patológicos da obra. 

  Conhecer a origem dos fenômenos para poder diagnosticar e tratar com a conduta correta a fim de preservar os valores projetuais e construtivos da obra. Foto: Alcilia Afonso.2016

TERAPIA: É a ciência que estuda a escolha e administração dos meios de curar as doenças e da natureza dos remédios.
Therapeia = método de curar, tratar.

PROFILAXIA: É a ciência que estuda as medidas necessárias à prevenção das enfermidades.
Prophylaxis = prevenção Patologia das construções       
                                       
SINTOMA: É a manifestação patológica detectável por uma série de métodos e análises.

FALHA: É um descuido ou erro, uma atividade imprevista ou acidental que se traduz em um defeito ou dano.

ORIGEM: É a etapa do processo construtivo (planejamento/concepção, projeto, fabricação de materiais etc) em que ocorreu o problema.

DIAGNÓSTICO: É o entendimento do problema (sintoma, mecanismo, causa e origem).

CORREÇÃO: É a metodologia para a eliminação dos defeitos causados pelos problemas patológicos.

RECUPERAÇÃO: É a correção dos problemas patológicos.

REFORÇO: Aumento da capacidade de resistência de um elemento, estrutura ou fundação em relação ao projeto original, devido à alteração de utilização, degradação ou falha que reduziram ou não atendem a sua capacidade resistente inicial.

RECONSTRUÇÃO: É o refazimento de um elemento, estrutura ou fundação em razão de, mesmo que este recebesse uma ação corretiva, não atenderia mais a um desempenho mínimo aceitável ou, de um custo dado que a intervenção corretiva seja maior que o custo de sua reconstrução.

MODELOS DE FIDS_ Fichas de identificação de danos

As fichas de identificação de danos chamadas de FIDs, colaboram na organização da compreensão do problema patológico,e  juntamente com o mapa de danos, formam um conjunto de material gráfico projetual que será a base do projeto de intervenção no patrimônio edificado.

Lichteinstein (1986) e Tinoco (2009) trabalham de forma esclarecedora

Abaixo, algumas das FIDs elaboradas por Diego Diniz em seu TCC que está em andamento sobre o Teatro Severino Cabral.
 
         Modelo de fids  Teatro Severino Cabral e seus problemas patológicosFoto: Diego Diniz.2019.


 

 Modelo de FIDs  Teatro Severino Cabral e seus problemas patológicos Fonte: Diego Diniz.2019.

CLASSIFICAÇÃO DAS PATOLOGIAS 

Conforme suas origens (Pedro et al, 2002), são classificadas conforme suas origens em:

CONGÊNITAS - originárias da fase de projeto, em função da não observância das Normas Técnicas, ou de erros e omissões dos profissionais, que resultam em falhas no detalhamento e concepção inadequada dos revestimentos.

CONSTRUTIVAS - têm origem relacionada à fase de execução da obra, resultante do emprego de mão de obra despreparada, produtos não certificados e ausência de metodologia para assentamento das peças.

ADQUIRIDAS - ocorrem durante a vida útil dos revestimentos, sendo resultado da exposição ao meio em que se inserem, podendo ser naturais, decorrentes da agressividade do meio, ou decorrentes da ação humana, em função de manutenção inadequada ou realização de interferência incorreta nos revestimentos, danificando as camadas e desencadeando um processo patológico.

 Teatro Severino Cabral e seus problemas patológicos: infiltrações, sujidade, crosta negra em suas fachadas. Foto: Alcilia Afonso.2016

ACIDENTAIS – caracterizam-se pela ocorrência de algum fenômeno atípico, resultado de uma solicitação incomum, como a ação da chuva com ventos de intensidade superior ao normal, recalques e, até mesmo incêndio. Sua ação provoca esforços de natureza imprevisível, especialmente na camada de base e sobre os rejuntes, quando não atinge até mesmo as peças, provocando movimentações que irão desencadear processos patológicos em cadeia.


BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5674: Manutenção de edificações - Procedimento. Rio de Janeiro, 1999.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-1: Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho - Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2008.

BAUER, E., Kraus, E., Antunes, G.R, Patologias mais correntes nas fachadas de edifícios em Brasília. 2010. Proc. 3º. Congresso Português de Argamassas de Construção - APFAC, Lisboa, Portugal.

CUNHA  et al. Acidentes estruturais na construção civil. Volumes 1 e 2. São Paulo: editora Pini. 1998. 

ICOMOS/ ISCARSAH_ International Scientific Committee for the Analysis and Restoration os Structures of Architecturarl Heritag: estabeleceu recomendações para Análise, conservação e restauração estrutural do patrimônio edificado. Paris. Set.2011.

FLAUZINO, W. D.; UEMOTO, K. L Durabilidade de materiais e componentes das edificações. In: SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO DE RACIONALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO E SUA APLICAÇÃO ÀS HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL, 1981, São Paulo. Anais... São Paulo: IPT, 1981. p. 203-220.

LICHTENSTEIN, Noberto. Patologia das construções. Publicado no Boletim Técnico Nº06/86 da Escola Politécnica da USP. SP:USP. 1986

SOUZA, V. C.; RIPPER, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto. São Paulo: PINI, 1998.

TINOCO, Jorge Eduardo. Mapa de danos. Recomendações básicas. Recife: CECI/MDU. 2009.

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