A obra do CAIC em Campina Grande, Paraíba.
Introdução
Texto extraído de artigo de Alcilia Afonso(2019)
Na cidade de Campina Grande, o projeto original
da equipe de Lelé sofreu alterações, mas mesmo assim conseguiu manter a
essência projetual e construtiva proposta pelo mestre, conforme será visto a
seguir.
A Obra do arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé, possui um forte componente técnico e artístico, conforme colocou COSTA (1985), que escreveu que este era um arquiteto de sensibilidade artística inata, mas fundamentalmente voltado para a nova tecnologia construtiva do “pré-moldado”, enfrentando e resolvendo de forma racional, econômica e com apurado teor arquitetônico os mais variados e complexos desafios que o mundo social moderno programa e impõe.
Introdução
A denominação de CIAC foi modificada por CAIC, Centro de Atenção
Integral à Criança e ao Adolescente José Jofilly, estando implantado no bairro
das Malvinas, entre as Ruas Antonio Gomes Pereira e Nivaldo Henrique de
Oliveira.
O terreno apresenta uma topografia
acidentada, de forma trapezoidal irregular, dividido em dois planos: um plano mais
baixo, onde estão localizados os acessos e três
volumes: e um outro, bem mais alto, onde fica localizado apenas o volume
do ginásio e o anfiteatro.
Na parte baixa do
terreno, ficam os dois acessos realizados pelas ruas Rua Antonio Gomes Pereira
e Rua Nivaldo Henrique de Oliveira, e estão implantados os blocos que sediam o
Núcleo de atenção à criança, com a creche; o Núcleo de educação para
trabalho, saúde, proteção à criança, adolescente e família; e o Núcleo de capacitação, alimentação, educação escolar e gestão.
Volume de dois pavimentos. Fotomontagem com fotos de Alcilia Afonso.2019 |
Estes blocos adotaram
como solução projetual, uma planta modulada, racional, com setorização dos
espaços, usando os princípios projetuais da modernidade arquitetônica, que
facilitou a solução construtiva que adotou o concreto armado e a argamassa
armada na composição dos elementos, como pilares, vigas, lajes, fechamentos de
peles e detalhes.
Volume do Ginásio Coberto. Fotomontagem com fotos de Alcilia Afonso.2019. |
O volume do ginásio, sem dúvida, é o mais imponente,
devido às suas soluções projetuais e construtivas, além de sua implantação na
parte mais elevada do terreno. A solução projetual adotou o diálogo
arquitetura/estrutura e as soluções construtivas estão todas à vista, como os
pilares modulados tipo pórticos, construídos em perfil metálico modulado em
seis grandes vãos, e cobertura com seus sheds e peles de fechamento frontal e
posterior.
O espaço interno é generoso, aberto, amplo,
ventilado e bem iluminado, e de uma beleza espacial e construtiva que
impressiona. Todas as soluções projetuais
e construtivas foram muito acertadas e o resultado é um espaço de excelência
formal e funcional. O alto pé-direito, a
ventilação cruzada, os espaços vazados proporcionaram um micro clima bastante
agradável.
As patologias da obra:
conservação.
O que chama atenção é o estado no qual esta obra
se encontra: como uma obra relativamente nova, pode estar tão mal cuidada, com
alguns blocos denotando uma falta completa de conservação? Tal resposta em uma
primeira instância, nos leva a crer, numa má gestão administrativa com o bem
público.
Este problema crucial e fundamental de gestão
administrativa acarretou patologias nos blocos do edifício, onde se pode
observar em um diagnóstico ainda incipiente, que a falta de segurança, que
permite o acesso fácil de pichadores tem sido um grave problema. Quase todos os
blocos estão muito pichados, em platibandas, passarelas, fachadas e até mesmo,
em espaços internos.
A falta de capinação de áreas externas, de
manutenção de jardins, calçadas, vem deixando “o mato tomar conta” de espaços
que poderiam estar sendo usados até os dias atuais pelos alunos que ainda
frequentam o Centro.
Se os problemas fáceis de resolver estão neste
nível, pior ainda está a estabilidade de elementos estruturais de alguns blocos,
que estão com suas ferragens internas expostas, necessitando de reparos
imediatos, a fim de estancar a patologia.
O ginásio possuidor de uma arquitetura tão forte
e potente sofre também tal descaso na conservação de seus elementos
estruturais, que ao que parece, nunca foram devidamente conservados, pintados,
mantidos.
Um espaço generoso e necessário ao público
daquela comunidade encontra-se sujo, abandonado, sem conservação externa e
interna, reforçando que não interesse daquela gestão em dar vida ao local. Mas
por quê? Difícil se compreender, quando se pode observar que o entorno é composto
de outras escolas públicas, até mais recentes, que podiam também usufruir deste
espaço.
Sempre há solução às patologias, e
principalmente de um complexo educacional recente e pertencente à produção de
uma equipe liderada pelo mestre Lelé. Ter uma obra desta importância deveria
ser motivo de orgulho, e preservá-la torna-se um dever público. Pensar em
demoli-la é um crime contra o patrimônio arquitetônico campinense e nacional.
Fonte:
AFONSO, Alcilia. FÁBRICA E INVENÇÃO. A conservação da obra do CAIC
em Campina Grande. Paraíba. Belo Horizonte:Anais do 3º Simpósio do ICOMOS Brasil.2019.
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