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A antiga Vila operária da Fábrica CIPER em 2018.

Texto: Dra. Alcilia Afonso. CAU_UFCG
Fotos:Dra. Alcilia Afonso. CAU_UFCG



A Companhia Industrial de Pernambuco/CIPER criou, junto com a fábrica, uma das primeiras vilas operárias da América Latina.

Através de coleta de informações, teve-se acesso aos resultados de pesquisa coordenada pela professora Maria da Graça Ataíde Almeida, realizada pela UFRPE (2013), que mostrou a profunda imbricação entre o empresário Carlos Menezes, a Igreja e o Estado na consolidação da fábrica de Camaragibe.

Segundo pesquisas, Carlos Alberto de Menezes, primeiro diretor da fábrica, inscreveu no estatuto da companhia princípios de cunho cristão que conferiam benefícios aos operários, estimulou a vinda de religiosos para preparar trabalhadores para a indústria têxtil (e fundar o Colégio Salesiano no Recife), e promoveu a criação da Corporação Operária de Camaragibe. Da organização operária iniciada na fábrica de Camaragibe surgiria a primeira legislação sindical urbana do Brasil, o decreto 1.637 de 1907.
                                    Escola Pedro Collier e ao fundo, a República dos solteiros.
Foto: Alcilia Afonso/Kaki Afonso. Julho 2018.

Edificação da República dos solteiros
Foto: Alcilia Afonso/Kaki Afonso. Julho 2018.


Sobrado da Vila operária
Foto: Alcilia Afonso/Kaki Afonso. Julho 2018.


A Vila da Fábrica, planejada pela empresa, era um bairro residencial com os serviços urbanos essenciais: saneamento básico, abastecimento, saúde, serviço religioso e educacional. Foi a partir da fábrica que a cidade cresceu, trazendo a fundação de outras vilas, como a Vila Nova, na década de 1940.

De acordo com texto sobre a Lei 032/97, que trata sobre o uso e ocupação do solo de Camaragibe, a Vila mantém ainda hoje sua concepção urbanística original, com o traçado do arruamento preservado. No conjunto da Vila, além do arruamento, merece destaque o prédio da República dos Solteiros, que hoje está usado como espaço cultural Carlos Meneses.

A Vila da Fábrica, ao longo do tempo, passou por significativas modificações no conjunto das edificações, principalmente com relação às casas do operariado. 


Poucos edifícios estão preservados, tais como a Escola Pedro Collier; o edifício que abrigava uma espécie de mercado/loja para funcionários da Fábrica e atualmente abriga uma cooperativa de tecelagem e a edificação da República dos solteiros, hoje, um centro cultural.

A área ainda possui familiares dos antigos funcionários, e todos se orgulham do passado da Fábrica e da importância que a mesma teve para a formação daquele lugar: um lugar de memória da classe operária.

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